quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Uns tantos"

"Uns tantos"

Adentro,
Em mim,
Atentos,
Uns tantos
Que não
Sei mesmo.
Alguns
Com seus
Silêncios.
E outros
Com seus
Segredos.
O certo
É que,
Em meio
A tudo
Que penso
E sinto,
Há um
Que só
Deseja
Brincar
Comigo:
Faz versos
Com metro
Medido
E rimas
Ranzinzas.
É como
Quisesse
Reptar
O in-
Finito,
Sem o
Raptar
Do íntimo.

domingo, 18 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Éris" - para Alberto Lins Caldas

"Éris" - para Alberto Lins Caldas


Quando
Páris
Disse
Qual
Deusa
Era a
Mais
Bela,
No
Fundo,
Éris
Sempre
Quis
Que
Fosse
Ela.

Adriano Nunes: "Setembro"

"Setembro"


O sol
Em êxtase.
Que nos
Bem sabe?
Parece
Que a tática
Que traço
Agora
Não traz
Pra o dia o
Que nos
Repara
Ou nos
Adorna.
De fato,
Os teus
Abraços
E o teu
Prender-me
Nas pernas
Não saem
Da afoita
Memória.
Ah, como
Desejas
Que eu
Escape?
Sentir
Não basta?
Calor
À tarde.
Em chamas,
Palavras
Pra tudo,
Pra nada.

sábado, 17 de setembro de 2016

Ralph Waldo Emerson: "Letters" (Tradução de Adriano Nunes)

"Cartas" (Tradução de Adriano Nunes)


Cada dia traz um barco,
Cada barco, uma palavra;
Bem, pra os que medo não têm,
Olhando certos pra o mar
Que aquela que traz o barco
É a que almejam escutar.

Ralph Waldo Emerson: "Letters"

Every day brings a ship,
Every ship brings a word;
Well for those who have no fear,
Looking seaward well assured
That the word the vessel brings
Is the word they wish to hear.


EMERSON, Ralph Waldo. Collected Poems and Translations. New York: Library of America, 1994.

Adriano Nunes: "Zalaviev e o mar"

"Zalaviev e o mar"


Pena que Zalaviev tenha partido
Logo cedo para o mar!
Reclama o deserto, com algum remorso
E insólito tédio. O mar
Não é mais nosso, não pode ser mais nosso!
Resmunga o céu, sem pesar
Quanto de si era de Zalaviev.
A ida para o mar serve
Mesmo de consolo, suspeita o momento.
Zalaviev ver precisa
Como funciona a vida, a coisa toda,
Berra a esperança roída.
Quem mandou ser fraco, fugir da batalha,
A astúcia logo gargalha.
Ora, então deve ter sido aquele sonho
De liberdade! Algum sonho!
Atiça a babel o vento, com veneno.
Ah, Zalaviev pequeno!
Por que se importam com o Zalaviev,
Indaga a desconfiança.
Sim, Zalaviev é pequeno demais!
Concorda a ganância tanta.
Ele quer furtar nossos medos e ais!
Repudia a hipocrisia.
Antes da hora morrer Zalaviev
Precisa, para que leves
Fiquemos nós, a maldade sugeria.
Nunca deve ao mar chegar!
Zalaviev é uma ameaça: ele
É feliz! Ser feliz é
Uma afronta, esclarece a inveja, sem pressa.
Movamos o mar até,
Se necessário! Pra a ignorância interessa
Somente o não ter o agora.
Zalaviev foi pra aquele mar, sem volta.
Gostaríamos bastante
De saber o porquê de Zalaviev
Ter partido para o mar,
Pranteiam todos, e tudo se veste de
Vontade e desassossego.
Pena que Zalaviev tenha partido
Para longe logo cedo!

Adriano Nunes: "Saída" - para Leoni Siqueira

"Saída" - para Leoni Siqueira


Ainda
Que haja
Diversas 
Saídas
Pra o tudo-
-Ou-nada,
Melhor
Ficar
Entregue
Aos riscos
Da alada
Palavra.
Talvez
Já valha
Dizer
Que basta
Apenas
A ideia
De ver
Surgir
Na folha
Anêmica
Um novo
Poema:
Bem mais
Que a vida
Forjada
Em ais.
Ao menos,
Que ele
Não diga a
Que veio
Jamais!

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Até"

"Até"


Um corpo
Parece
Um corpo

De algum
Ser outro
Qualquer.

Não é
Tão pouco.
A ideia

Que se
Faz disso
Parece

A ideia
Do que
Se faz

De uma
Ideia
Qualquer.

Um verso
É só
Um verso,

Mas pode
Gerar
Mais corpos,

Mais cosmos,
Mais códigos,
Mais cores,

Ideias
Diversas,
Mais versos.

O que
Pensar
O cérebro.

Pasárgadas,
Macondos
Ou Ítacas.

Não vês
Que agora
Acaba

De ser
Criada
A vida?

Adriano Nunes: "Mais nada"

"Mais nada"


Depois
Não venha
Dizer
Que a álea
Não deu
A senha
Exata
Pra o amor
Que era
Pra ser
Só nosso.
Talvez
O que o
Alarga.
É óbvio
Que a volta
Por cima
Sequer
Passou
De vasta
Mancada.
Agora,
Que resta
Além
De ritmos,
De rimas,
De métricas
E raiva?

domingo, 11 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Ars poetica"

"Ars poetica"


Outra noite e nós dois...
Diz-me o lápis
Que me amas, e mais!
Diz-me a folha
Que me enganas demais,
Que os meus ais já estranhas
Pra que em ti não se finquem.
Aos berros, a borracha
Constata que te entranhas
Em meu cerne.
Sem mais e sem dar trégua.
De meu ser,
A escrivaninha ri.
À socapa, te esvai,
Para qu' eu fique só,
Sem o peso dos ritmos
Muito alegres,
Sem vestigios de paz,
A repensar em quando
Voltarás ao meu canto.
Tu sequer sabes, mas,
Depois da meia-noite,
Pouco importa o que fica
Pra trás, o que soçobra,
O que não era vida.
Quanto vida não era.
Proezas ou quimeras.
Que importa se se faz
Um Everest debaixo
Dos lençóis. Ou insólito
Sol? Sonhar-te que importa?
Quanto importa?
Ah, como fixo o olhar
Na entreaberta porta
Da ilusão,
Para ver se te tornas
Êxtase em existir,
Para ver se me acenas
Do além-mar
Dos mitos, do que há
De nós dois em nós dois,
Com astutas metáforas,
Outros metros miméticos,
Velhas e novas formas,
Matizes do infinito e
Do devir!
Não é hora?
Oh, Poesia, volta!

sábado, 10 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Τειρεσίας" - Para Péricles Cavalcanti & Lidia Chaib

"Τειρεσίας" - Para Péricles Cavalcanti & Lidia Chaib

O porvir
Em meus olhos!
Melhor não 
Saber nada
A ter que
Ter a alma
Mutilada,
Por não ter
Como inter-
Vir no que
Ocorrer
Mesmo pode.
Pobre Édipo!
Sina podre!
Melhor não
Ter visão
Para o além!
Melhor não
Ter ninguém
Para ver
Pelos nossos
Tristes olhos!
Tudo é noite!
Tudo é sorte!
De repente,
As serpentes!
Não irei
Mais ao monte
Citorão!
Ter os olhos
Pra amplidão
Do futuro,
Melhor não!

Adriano Nunes: "Negócio"

"Negócio"


Teu corpo.
Não sei
Direito
Se era
Oásis
Ou mera
Miragem.
Alarde?
Apenas
Deixei
Agir
O instante -
O elo
Estético
Que a Arte
Reparte
Com quase
Metade
Dos lances
Dos des-
Propósitos:
O amor
Amado
É mesmo
Insólito
Chinês
Negócio.
Que faço?

Adriano Nunes: "Palavra"

"Palavra"


A beira
Do abismo
Não basta.
Metáfora,
Ainda
Não tida,
Guardada
No âmago
Do sol
De algum
Vernáculo
Errático,
Escapa.
Que digo
Do que
Em mim
Perpassa?
Saudade
Da fala,
Do fátuo-
Fermento
Do átimo
De dentro.
Mancada?
Não era
Pra ser
Só máscara.
O fundo
Do poço
É pouco.
O signo
De si
Não salta.
Saliva.
Soluço.
Saída
Pra tudo,
Pra nada.
Palavra.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Teia"

"Teia"

Tento
Ser
Eu

A
Toda
Hora

Mas
Outros
Tantos

Que
Sou
Forjam-me.

Mesmo
Não

Como
Ser
Este?

Que
Vasta
Sede

De
Ser
Meu

Ser
Sem
Que

Haja
Dele
Cópias!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "O ser que me dói"

"O ser que me dói"

Às vezes, é o in-
Finito de mim
Que esfacela tudo:
Desejo desnudo,
Quimeras, devir.
Depois, embaraço
De sóis em que caço
O ser que me dói.
A dor me constrói.
Pois sobrevivi!
Às vezes, é o in-
Decifrável fim
Do verso que busco,
Ao rabiscar brusco
Do lápis, assim.

domingo, 4 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Quase"

"Quase"


Quatro
Pés,
Quatro
Mãos,

Quatro
Olhos,
Tara e
Chão
Para
Mais
Álea e
Cláusulas.
São
Toques
Tantos,
Táticas.
Pele
Na
Pele,
Carne
Sobre
Carne,
Glândulas,
Ares.
Tramas
De
Átimos.
Gozo
É
Quase
Toda a
Arte.
Tudo
Mesmo
Quanto
Vale?

sábado, 3 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Medusa"

"Medusa"


Já tive muitas dores.
Quando eu era criança,
Eu não sabia o que era dor.
Apenas doía. Doía!
Abriguei várias angústias e medos.
Eu não sabia que ter medos
Era essencial para ser quem sou mesmo.
Quando eu era criança,
A vida era uma dança infinda.
Uma trama de truques e tentativas.
Não havia o mínimo, a forma, a regra.
A beleza violentamente completa.
Dizem que eu era uma menina linda,
Cabelos longos, lábios lânguidos,
Sorrisos que desafiavam o Olimpo,
Olhos penetrantes, petrificantes.
Não tenho saudades da infância
Perdida nos escombros dos sonhos.
Não tenho saudades de nada.
Vez ou outra, uma lágrima
Quer despencar dos báratros do íntimo.
Vez ou outra, grito. E tudo treme.
As serpentes servem-se do ser
Que já não sinto ser para saltarem
Da existência amalgamada.
Restam essas estátuas sem nome.
Armaduras, escudos, espadas,
Estranhos à minha procura.
Pedras. Apenas pedras. Perdas.
Sinto que o mar se agita. É a vida
Enfurecida por mais vida.
Quase manhã.
Quase me atiro desse penhasco sombrio.
As serpentes. Elas sabem
De mim, são confidentes, sempre
Prontas para a batalha.
Favônio parece vir para zombar de
Meus desenganos. Tudo arde
Para que a solidão pese e valha.
Já tive tentações diversas.
Esses arquétipos de vínculos
Que esfacelam o contato e
O flerte rápido restam.
O horror se agrega a meus nervos.
Tudo se dá como armadilha.
É quase manhã.
Ah, essas estátuas sem nome!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Adriano Nunes: "Dos sóis do metro"

"Dos sóis do metro"

Aquele aperto
No cerne de
Tudo, que fere
Este portento -
E fere mesmo
Muito! - que quer
Dos meus anseios,
Que quer do que
Eu penso ser?

Talvez Euterpe
Não desconverse
Nem por um breve
Momento, certa
De que não deve
Ser outro medo
Dos sóis do metro,
Do ritmo elétrico
Do astuto Eros,

Que me faz ter-
Minar o verso.